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Sam e o Trovão

por Bianca Nevado da Silva

Durante nossa existência, o mundo se baseou – e até hoje se baseia – em uma interação entre espécies, sendo ela um comensalismo, parasitismo ou mesmo uma simbiose. Cada espécie apresenta suas características e cada indivíduo, suas peculiaridades. Em relação à espécie, existe variedade na movimentação, no modo de comunicação, na forma de se alimentar, caçar, procriar e ouvir. O som é um excelente exemplo: seres humanos apresentam uma audição definida por uma certa frequência de ondas sonoras; as girafas se comunicam em ondas que são inaudíveis ao Homo sapiens; e os cães apresentam uma audição muito mais aguçada comparada aos humanos.

A percepção de banalidades como um copo se partindo, fogos de artifícios, portas abrindo e até uma chuva com poucos trovões é, muitas vezes, pouco evidenciada por uma pessoa, entretanto, cada espécie escuta de uma forma diferente. Para os seres caninos, os quais conseguem ouvir uma lágrima antes mesmo de ela cair, são sons muito audíveis e cada indivíduo de sua espécie reage a ela diferentemente.

Golden Retriever, 8 anos, carinhoso, carente, que ama passear, porém é preguiçoso o suficiente para tomar água deitado. Sam, um cão peculiar que, após um período de sua vida, adquiriu um medo absurdo de chuvas e trovões, por mais fracas que fossem. Morando em um sobrado, sua fuga era procurar por um lugar protegido antes que qualquer gota caísse do céu.

Inúmeros locais foram considerados mais seguros na concepção dessa bolinha de pelos: atrás de portas, embaixo da escada e escrivaninha, dentro do box do banheiro e em cima de qualquer cama, na qual, seu tutor permanecia. Além disso, uma das características que mais chamava atenção era o andar incansável, subindo e descendo as escadas, estranho, não é mesmo?!

No entanto, ao longo de sua vida, além do medo exacerbado de chuvas, Sam desenvolveu uma doença degenerativa nos membros posteriores, denominada displasia coxofemoral, o que fazia com que seus responsáveis o impedissem de realizar essa rota anormal, deixando-o perturbado. Muito foi realizado para que o cãozinho se sentisse mais confortável com a situação: algodão no ouvido, deixar uma roupa de seu melhor amigo por perto, deixá-lo embaixo da escada, realizar a construção de um forte feito de lençóis, fazer carinho, conversar muito com a voz calma e fechar todas as portas e vidros. Mas nenhuma dessas atitudes o fez ficar mais calmo.

Durante um dia de muita chuva, o cãozinho começou a procurar seu lugar atrás de diversas portas e andar incansavelmente, até começar a subir e descer as escadas. Porém, decorrente de sua condição nos membros, ao descer novamente as escadas, dessa vez com cera, ele caiu. Seu tutor, desesperado, correu para observar o que havia acontecido e, mesmo assustado, Sam continuou a descer as escadas até o porão. Entretanto, dessa vez, seu melhor amigo estava com ele, acompanhando-o, e, ao chegar lá, ele ficou calmo pela primeira vez. 

Golden Retriever, 8 anos, carinhoso, carente, protetor, que ama passear, entretanto é preguiçoso o suficiente para beber água deitado. Sam, um cão peculiar que, após um período de sua vida, adquiriu um medo absurdo de chuvas e trovões e que, acima de tudo, quer proteger aqueles que ama, estabelecendo, assim, uma relação na qual os dois sempre ganham.

Bianca Nevado da Silva, 22 anos, estudou no Colégio Padre Anchieta e se formou em 2014. Fazendo o último ano de Medicina Veterinária, ama animais, principalmente o Sam.